Um dos filmes mais antecipados do ano, Coringa: Delírio a Dois, chega com a responsabilidade de dar sequência a um dos maiores sucessos do cinema recente. Dirigido novamente por Todd Philips, que assina o roteiro ao lado de Scott Philips, o longa tem o retorno de Joaquim Phoenix ao papel título e a presença de Lady Gaga, como Arlequina.
Tecnicamente o filme tem uma bela fotografia e como esperado, boas atuações. Phoenix continua muito bem no papel que lhe rendeu um Oscar e Gaga, mesmo que não tenha tanto tempo de tela assim, completa de forma competente o par da insanidade. O carcereiro, interpretado por Brendan Gleeson, também merece um destaque na atuação.
Só que isso não salva as mais de duas horas de história que se perde entre os rumos escolhidos para seu desenvolvimento. Existiam dois caminhos básicos a serem trilhados: um é o óbvio, do fanservice exagerado e que vai atender a todas as expectativas da audiência e outro é um no qual esse desejo será subvertido por um caminho novo.
Nesse ponto, Coringa: Delírio a Dois, segue o mesmo caminho de Matrix 4. O filme se mostra como uma sequência que não queria existir, porém ao contrário do longa de Lana Wachowski que deixa isso explícito nos primeiros minutos e segue firmemente por essa linha, aqui temos um filme que se perde nessa decisão: ele erra ao não se definir se quer ser um drama de tribunal, um quase musical ou um estudo que expande o personagem, que é desconstruído de toda a mítica criada no primeiro longa.
A idolatria errônea sobre o Coringa, que se tornou um ídolo que nunca deveria ser seguido, é desconstruída mostrando que, por trás do símbolo há um humano falho, doente, vítima sim de uma sociedade injusta e que não sustenta a máscara da virilidade de agente do caos que muitos esperam. É manipulado facilmente e abandonado assim que não corresponde as expectativas. Isso talvez incomode muita gente que se viu no personagem porque atinge uma verdade que essas pessoas não querem expor ou enxergar em si. Fosse assim, seria um filme ótimo, instigante, daqueles que marcam e incomodam mas a execução da ideia se perde na narrativa arrastada que parece nunca chegar a lugar algum.
O tempo torna-se pesado enquanto o personagem vai da prisão, para a entrevista, para o tribunal, para a solitária, de volta ao tribunal, tudo intercalado pelos seus delírios musicais que, vão se tornando insuportáveis até o ponto em que o próprio personagem pede para que as canções cessem. Percebe-se ali a ideia de incomodar, de não atender as expectativas mas tudo isso poderia ter feito de forma mais enxuta e dinâmica. Parte das cenas ou das escolhas poderiam ser cortadas para um resultado mais coeso para demonstrar seu desejo de nem existir.
E mesmo que o filme demonstre isso, ele deixa leves pontas aqui e ali que até poderiam se tornar uma terceira parte ou um spin-off. Se haverá rececpção para isso é difícil dizer já que o resultado final não será unânime pois no fim, não acerta quase ninguém: nem os fãs do primeiro, nem os detratores e nem novos fãs. Se isso era proposital ou não, provavelmente jamais saberemos.
Coringa: Delírio a Dois chega aos cinemas em 03 de setembro. Confira o trailer: