Um dos filmes mais aguardados do ano, ou talvez o mais aguardado dependendo de quem você perguntar, Barbie chega aos cinemas cercado por um hype gigantesco criado não só pelo marketing envolvido, além claro de toda a força que a marca tem, mas também pelo elenco e equipe que se reuniram nessa obra. Seja pela escolha de Greta Gerwig para o roteiro e direção ou a escalação de Margot Robbie como a personagem principal (e Ryan Gosling como Ken), o longa que dá vida à boneca mais famosa da história tinha uma extensa lista de expectativas para atender.
Escrito em parceria com Noah Baumbach, o roteiro de Greta Gerwig é inteligente, emocional e debochado na medida certa. Qualquer receio do filme cair em uma paródia de si mesmo se dissipa logo nas primeiras cenas. As cores vibrantes da Barbielândia remetem a toda imaginação e cenários dos diversos lançamentos ao longo dos anos e não soam ridículos. Está tudo ali: as rampas, casas sem janelas, móveis ou objetos desproporcionais ou os diversos figurinos. Tudo criado de forma orgânica, com cenários reais e pouquíssimo uso de computação gráfica em um trabalho de cenografia e figurino impecáveis que entrega diversos easter eggs para os fãs, sem soar forçado como em muitas produções atuais, já que eles tem motivo para estarem ali.
Nesse mundo, Barbie vive todos os dias como sendo o melhor dia de sua vida, em sua rotina perfeita com as outras Barbies (e os Ken) até que um dia as coisas começam a falhar e ela descobre que para voltar à normalidade precisa ir ao mundo real encontrar a causa dos problemas. O que a leva a um choque de realidade ao chegar no mundo real, já que Barbie descobre que não é tão amada, que é criticada por ser esterotipada e que nele, o patriarcado dita as regras. E a partir daí, ela (e Ken) entram em uma jornada de auto conhecimento recheada por críticas sociais e mercadológicas assim como reflexões existencialistas sobre os papeis de cada gênero na sociedade e como uns são vítimas de um sistema que talvez sequer sabiam, enquanto outros gostam de manter o sistema assim e vários sequer saibam realmente quem ou o que são, apenas seguindo o que lhes dizem para ser.
Nesse caminho que Ryan Gosling rouba a cena com seu Ken. Sempre à sombra de Barbie, ele tenta encontrar para si uma identidade, ainda que siga por direções tortuosas e opostas à de Barbie durante o encontro com a realidade, sua interpretação com um timing cômico impecável. Michael Cera como Allan, o único outro boneco além dos Ken e único sem versões, assim como Kate McKinnon como a Barbie Estranha, também tem seus grandes momentos ao longo do filme.
Claro que com suas críticas, Barbie vai incomodar muita gente, principalmente as que gostam de manter a realidade que a boneca encontra ou aquelas tão submissas a esta que perderam qualquer capacidade de questionamento. Todos vão se identificar com as situações e se emocionar de alguma forma por vivenciarem isso todo dia. Parte como vítimas e parte como a opressora, a que mais vai se incomodar. O longa poderia até ser mais incisivo nisso, como por exemplo no papel de Will Farrell interpretando um diretor da Mattel de forma menos caricata, porém isso provavelmente mudaria a classificação etária para algo mais restrito, o que obviamente significa uma bilheteria um pouco menor e mesmo que a empresa ria de si mesma no filme, sabemos qual objetivo ela tem ao final do dia. E sim, isso também é criticado de certa forma em uma cena.
Barbie estreia nos cinemas nesta quinta (20). Confira o trailer: